terça-feira, agosto 29, 2006

SENHORA DO MONTe: entre a festa e o luto

Dois mortos e trinta e cinco feridos, alguns deles com alguma gravidade, é o balanço oficial do acidente de viação que neste domingo paralisou os tradicionais duzentos quilómetros da Huíla, no Lubango. O acidente aconteceu no complexo da Nossa Senhora do Monte, quando uma viatura de marca Porsche que participava na prova automobilística rompeu as barreiras de protecção do traçado e foi contra a multidão que se deslocara ao local para assistir aquela que marcava o encerramento das tradicionais festas de Nossa Senhora do Monte. Foram momentos de agitação e pânico que se seguiram. Duas pessoas morreram imediatamente. Outras fontes indicam para a morte de quatro pessoas entre os quais dois jovens, uma criança e um agente da Polícia, enquanto os feridos eram transportados para o hospital central do Lubango. Num ápice, o hospital Dr. António Agostinho Neto encheu-se de gente entre familiares e curiosos ávidos em saber da sorte dos sinistrados, só impedidos pela presença policial que tentava travar a ânsia dos primeiros provocando um motim que resultou no ferimento de um agente da Polícia. Perante a avalanche de pacientes o hospital revelou-se incapaz e se viu apenas aliviado do problema com o concurso de instituições públicas e privadas que responderam aos apelos de ajuda em meios materiais e humanos. O director provincial da saúde, Óscar Isalino, único a pronunciar-se sobre o estado das vítimas deu conta da situação,«Também deram entrada entre os 35 duas crianças que chegaram ao hospital mortas, neste momento os feridos estão a merecer toda a atenção da equipa médica para que se possa tranquilizar as famílias tudo está a ser feito para podermos resolver a situação clínica desses doentes». Coincidência ou não o infausto acontecimento deu-se no complexo da Nossa Senhora do Monte, o mesmo local que há um ano testemunhava o brutal acidente de um camião que fizera 21 mortos e mais de 70 feridos depois de ter perdido os travões e irromper contra a multidão que desfilava para o carnaval. Os feridos continuam a receber assistência médica e medicamentosa e nas próximas horas poderão ser dadas novas informações relativamente a evolução sanitária dos mesmos. (Teodoro Albano)

quinta-feira, agosto 17, 2006

O leilão

Mais uma vez a saúde financeira dos nossos governantes levou - me à admiração, por e simples. A primeira impressão é de que o vil metal acompanha os nossos titulares de cargos públicos, deixando rastos de dinheiro em qualquer ponto onde ponham os pés, sugerindo que a nossa casta governativa não olha à meios quando se trata de gastar, até o que é publico, remetendo ao seu kafokolo o que vão amealhando de salários e comissões que ganham, ornamentando assim os seus desde já recheados bolsos. Dia 15 de Agosto, na nossa senhora do monte, no âmbito da famosa feira do gado, mais um leilão foi realizado. Os vips fizeram-se presentes mais uma vez e em força. Dirigentes locais e do chamado governo central. A ocasião é propicia para mais uma manifestação de dinheiro. Um dos mais conhecidos ganadeiros do país, o homem que dirige o leilão, habilmente, aproveita para incentivar os quatro membros do governo central presentes a participarem, dando início ao primeiro lance. Alegres com a ocasião, a luta é tenaz entre os gestores de cargos públicos, ministros, para levar para casa ou para as fazendas, uma enorme vaca holandesa nos seus quase 500 kilos. Depois de minutos a luta pelo espécime bovino termina. A vitória a recai ao mais velho dos ministros presentes, não só porque entende do ramo, mas porque desembolsa 6000 mil dólares norte americanos. Fica por se saber se a vaca holandesa vai à fazenda ou ao prato. Uma lição... tem dinheiro.

POR AQUI TUDO SE FALA .....

Numa dessas noites, no Lubango, procurava no selector de frequências do meu rádio digital e dou de ouvidos com um espaço aberto para questionamentos e criticas de ouvintes dirigidos a quem quer que seja. O programa é da Rádio Huila, apresentado, soube depois, por uma antiga companheira minha quando trilhávamos os primeiros passos do Rádio jornalismo. Voz amena, cordial e algumas palavras sabias, bem colocadas. Classifiquei assim a jovem locutora. Fiquei surpreendido, pois num passado recente iniciativas do género no interior do país eram por e simplesmente retiradas do ar depois de pressões das autoridades. No Lubango, tal também aconteceu. Depois de 16 meses longe da terra, o programa chamou-me atenção. As autoridades não foram poupadas. Perguntava-se de tudo. A crónica falha no sistema eléctrico que lança escuridão quase total a cidade, a reabilitação de estradas, a falta de água, o crime, entre outras coisas. O sistema do espaço, onde mais jovens ligam, era de perguntas simples, mas a maioria como se pode notar ficavam sem respostas, atiradas talvez para as “ calendas gregas” da Huila. E o programa decorria, qual fórum Ecclesia na versão huilana, com alguns ouvintes talvez mais esclarecidos e destemidos que outros a serem profundamente ríspidos para os que mandam. Esta é uma oportunidade, acredito, de se medir a popularidade dos que governam a província. Até que ponto conseguem satisfazer a expectativa do cidadão, numa localidade onde num passado recente as criticas eram feitas a boca pequena para se evitar severas punições. E para isso, apenas alguns destemidos jornalistas, contados pelos dedos de uma só mão, passavam criticam nas suas emissões. Verdade. Encontrar este programa na rádio pública pareceu-me vislumbrar um oásis depois de se atravessar um rigoroso deserto. Mas é uma pena que o mesmo esteja atirado para depois das 21 horas de uma sexta – feira. Com este horário são retiradas as possibilidade de adultos, estudantes universitários e mesmo a gesta intelectual local participe. É pena. Mas mesmo assim, espero que o programa continue, já é bom no formato actual. Espero voltar a ouvir quando regressar ao meu querido Lubango. Mas não nos esqueçamos que quem fala o que quer, habilita se a ouvir o que não quer...

EXPO HUILA

Arrancou a mais esperada feira comercial e industrial da região. Ocasião para provar que não só Luanda detêm o exclusivo na realização de acções do género, tal como a Gigante FILDA. Mais a edição 20 da EXPO HUILA abriu com reclamações: Com o crescimento da economia local, o espaço tornou se pequeno demais para agrupar as empresas que pretendem mostrar os seus produtos. Algumas de grande porte ficaram mesmo de fora. Outra reclamação tem a ver com a falta de apoio na importação de produtos. Uma velha questão que mais uma vez a associação comercial local trás a liça, com discussões frequentes sobre o assunto. Discursos contundentes, mas ao que parece com ouvidos moucos de quem manda. Os cinco dias da feira, habilmente preparados, dão a impressão de estarmos realmente numa feira cosmopolita. Os homens que detêm o capital no Lubango aí estão concentrados, observando, expondo e fazendo contactos de negócios. Com a já notada falta de espaços, alguém teve a ideia de transferir esta bolsa de negócios para longe da senhora do Monte, para lá do Lubango. A sugestão era Humpata, no cimo da serra da Chela. Mas alguém, parece que esqueceu-se que esta feira dá brilho das festas de nossa senhora do monte, que são do Lubango e são realizadas, a mais de vinte anos, num dos maiores complexos turísticos e desportivos de Angola.

sexta-feira, agosto 11, 2006

A GREVE E O JORNALISTA PRESSIONADO

A noticia soava preocupante. Os homens da seringa, enfermeiros, querem partir para uma greve. Os apelos dos pacientes para eram lacinantes, afinal uma greve tem sempre consequencias para o zé povinho. Os enfermeiros assim pensam porque estao sem salarios a 3 meses. O jornalista, reporter de radio olha para isso como uma oportunidade informativa. Noticia colhida, facto divulgado. Todos os elementos da noticia sao difundidos. Mas o facto dura pouco. O gestor da pasta de saude pressiona o director do meio e este, claro, ordena o concelamento puro e simples da noticia, pois pode provocar perigosos danos a provincia. O homem, preocupado, pede conselhos, mas a sua preocupacao continua. Pode ser expulso por divulgar um facto verdadeiro. Uma greve iminente, por uma causa justa. Com o rabo entre as pernas, o nosso colega nem sequer tem a coragem de recorrer a arma da denuncia de algo que é absolutamente verdadeiro, aqui a censura deixou de ser encapotada. Anda a luz do dia, acompanhado os incansaveis reportes que todos os dia fazem algo para manter o povo do Lubango, relativamente informado.

OS BURACOS E ALGUNS JORNALISTAS DO LUBANGO

16 meses depois da ultima estada, procurei voltar ao Lubango, beber das aguas da Chela. Voltar para continuar em paz com a consciencia, reconhecer os amigos e conversar, conversar muito. Esperava ver mais. Tinha a expectativa de ver menos buracos nas estradas, ver investimento. Mas as ideias iniciais, fugiam da mente quando do taxi que me tirou do aeroporto da Munkanka para a casa, olha a cidade do cristo rei. Apesar de engalanada para o turismo, sol e ferias de todos os Agostos, a muito se fazer. Dá um aperto no peito, saber que os meses passam e a cidade fica sem energia. Os buracos, que limpava da minha consciencia, afinal existem. Alguns podem virar crateras dentro em breve se os que mandam na municipalidade nada fizerem. Pelo andar da carruagem suspeito que dentro de meses quando regressar vou reconhecer as crateras nos mesmos lugares, aqueles que para eles olhei com magoa. Como ambientalista fui espreitar a senhora do monte e descobri os efeitos do desmantamento. Também, é obovio, ninguem fala. Reconheci os amigos, conhecei outros caramarads jornalistas. Senti que o sentido critico está a crescer, mas lentamente. As amarras da auto censura em alguns meios ainda faz morada. Falamos da falta de ousadia em mostrar a quem manda, o mais que poderia ser feito. Debalde. Alguns pensam que ser taxado, rotulado, é muito grave num meio com este. Entendi que, afinal , por cá há quem prefira ter a imprensa manietada para daí retirar as conhecidas vantagens....

segunda-feira, agosto 07, 2006

JULGAMENTO DO MESTRE

LUBANGO 1996. O dicionário que uso, define mestre como um especialista numa ciência ou arte ou ainda, no sentido geral, vulgar, aquele que ensina. Tive dois grandes mestres: para a arte do bem falar locução, um jovem no longínquo ano de 1995 de nome Joaquim Armando. Com cultura geral acima da média, ele sempre me pareceu intrépido. Tinha outro mestre, na área de redacção. Chama se Rebelo Veiga, um jornalista de missão, mas bancário hoje, acredito, por opção. O bicho da rádio vai voltar a incomodar, tenho fé. Mas o Armando, o tal jovem intrépido, marcou-me profundamente pois aos 16 anos, eu nunca podia imaginar que um julgamento pudesse ser tão mediático naqueles dias. Tempos duros, guerra em acção e a imprensa a fazer fé nos discursos da época. Numa dessas manhas frias de cacimbo rigoroso da Serra da Chela, com o carro móvel denominado azulão, o Armando cruzou mais uma vez a cidade de lés a lés testemunhando mais um nascer do dia, as obras, a agenda dos que mandam, os acontecimentos, os preços e claro a vida nocturna em clara referencia ao dia anterior. Era segunda feira, na noite de domingo num dos pubs mais populares da altura, um sonorizador da Rádio Huíla tinha sido detido. A acusação era simples: Estando na mesma diversão que o general governador, terá barrado a passagem do todo poderoso. A guarda, qual pretoriana, intercepta o camarada; O técnico de som é detido. Assim mesmo, sem apelo nem agravo… A arbitrariedade é denunciada para todos os cantos pelo meu primeiro mestre. Ele estava na festa, mas impotente, perante as armas da arrogância da guarda pretoriana, usa apenas os microfones como a arma da denuncia. Dai, foi um passo para ser intimado pelo crime de difamação contra o dito cujo. Atentado contra a figura e por ai… . A tragicomédia estava lançada. O jornalista é chamado á depor e vai a julgamento. Como jovem estagiário nunca poderia perder aquele momento. Se não estou em duvida foi um dos primeiros julgamentos de um “escriba” em Angola em tempos de democracia. Na sessão fiquei com a impressão que o juiz queria trucidar o jornalista. Perguntas matreiras, mas respostas precisas. Um espectáculo que durou duas eternas horas. No fim absolvição, por falta de provas. Mas o réu foi condenado a uma ligeira multa. Entendi, depois, que era uma forma do poder judicial não abafar o poder do general governador. Mas o meu mestre, mantinha um ar quase inabalado depois do espectáculo. Levou um colete azul do labor diário, trocou-o por um paletó cor de vinho a entrada do tribunal, trazido pela namorada. Depois da vitoria, a comemoração. Mas senti que o aviso estava lançado aos demais escribas contra supostas ousadias. O poder também sentia que qualquer “ queixa” não significa prisão para o réu. Os tempos mudaram. a Velha senhora ficou com a morte do poder popular. Nunca tive a oportunidade, vontade mesmo, de lhe perguntar o que sentiu na hora dos apertos do juiz. Espero faze-lo e recordar os meus velhos tempos de caloiro nas lides radiofónicas na Rádio Huíla - RNA onde a ousadia era punida severamente.....

ECOLOGIA E SUAS VERTENTES

O título soa desencontrado, grande demais. Mas este foi um dos mais importantes projectos informativos ambientais da cidade do Lubango. Duração três horas, doseado com o que de bom se faz na arte de compor sons, agradáveis ao ouvido, em suma a musica soul. Visivelmente inspirados em programas ambientais que existiam, amiúde, em algumas estações de rádio, propusemos nos aventurar á três horas de rádio por semana para falar da ecologia, entenda-se, num sentido restrito o ambiente, e as suas variadas vertentes. Proposta entregue, volta e meia, projecto aceite. Corria o ano de 1999, Janeiro. Com o companheiro Alfredo Vilar, na técnica, também ele um ambientalista de gema, começámos a empreitada ambientalista. Propusemos ao gestor da Rádio 2000, o veterano Horácio Reis, começar dali a duas semanas. Neste interim, publicidade com anúncios do programa eram lançados ao éter. E lá reunimos as ideias lançando o programa. Um ano depois, os resultados eram altamente visíveis. Palestramos em escolas, associamo-nos a Juventude Ecológica de Angola, alguns escolhidos foram á Universidade de Rhodes na Africa do sul frequentar estudos em cobertura jornalística ambiental, entre outros ganhos. Realizamos inúmeras expedições ambientais ao interior da Huíla, corremos o Namibe e Tombwa, mas falhamos o desejo de ir ao Cunene . Este período de graça do ECOLOGIA E SUAS VERTENTES durou ate 2002 quando abraçámos a vida profissional, efectivamente em Luanda. Mas o projecto vincou e resistiu meses. Mas hoje aquele programa ficou em saudades. O programa das segundas-feiras a noite foi substituído por outro de um seita religiosa. E que o dinheiro da seita parece ter mais valor que os ditames do ambiente, mais valor que a ECOLOGIA E AS SUAS VERTENTES. ....

sexta-feira, agosto 04, 2006

AMIGOS e ABRAÇOS

L. Kanhanga, jornalista LAC - Luanda Olá M.Vieira, regozijo-me pelo facto. Já lá estive. Força e não te esqueças de ir ao http://olhoatento.blogspot.com JORGE HEITOR, jornalista do PUBLICO, LIsboa Portugal Parabéns pela Serra da Chela, de que comecei a ouvir falar aos 17 anos, sabendo então da existência de Sá da Bandeira (Lubango) e das festas da Senhora do Monte, bem como da escola agrícola do Tchivinguiro. Muito mais tarde, vim a conhecer o Grande Hotel da Huíla, o monumento do Cristo Redentor e o caminho da Leba, rumo ao Namibe, que visitei em finais de 1985. O Liceu Diogo Cão, o Rádio Clube da Huíla e o Instituto Comercial da cidade que em tempos se chamou Sá da Bandeira eram algumas das minhas referências em 1965, quando de Angola ainda só conhecia directamente a cidade de Luanda e a ilha do Mussulo, bem como a pista de karts que havia em Belas. Só em 1982 é que sobrevoei o Cuanza, de helicóptero, e fui até Cambambe. Abraços JH

SENHORA DO MONTE

( Com a devida vénia o texto do meu amigo e confrade Teodoro Albano, VOZ DA AMERICA LUBANGO)
Arrancou no Lubango a 20ª edição das tradicionais festas de Nossa Senhora do Monte que se assinala todos os anos durante o mês de Agosto, na província da Huíla.Para celebrar este período festivo, várias actividades de âmbito económico, cultural, religioso e desportivo estão agendadas com destaque para a Expo-Huíla 2006, uma iniciativa do empresariado local que visa mostrar a capacidade produtiva da região, a tradicional prova de velocidade automóvel vulgo «200 Kms», e a procissão à padroeira de Nossa de Senhora do Monte um dos pontos altos das festas. O encontro de escritores de renome da praça nacional que se vai tornando já prática incontornável também é aguardado com expectativa para além de diferentes palestras que abordarão temas de interesse público ao longo das festividades. Para esta edição os problemas repetem-se faltam recursos para proporcionar uma festa condigna e faz-se o que estiver ao alcance da organização. O administrador municipal do Lubango, Virgílio Tyova, é de opinião que pela dimensão que as tradicionais festas da Nossa Senhora do Monte vêm tomando é altura do governo angolano institucionalizar a actividade, o que passaria por um orçamento próprio. «As dificuldades são sempre as mesmas e resumem-se sempre na falta de recursos para o comité e resume-se sobretudo na falta de reconhecimento pelo estado angolano pelo governo angolano da natureza de utilidade pública destas festas, porque, são festas que têm 102 anos estão a fazer agora 103 portanto me parece que já era altura de institucionalizarmos estas festas e serem e serem entendidas como um evento de utilidade pública». Apesar de ir na sua 20ª edição, as tradicionais festas de Nossa Senhora do Monte começaram a ser celebradas já no tempo colonial, mas só a partir do ano de 1986 começou a verdadeira contagem. Por causa das festas e apesar do frito que se faz sentir nesta altura do ano, Lubango é neste momento local de paragem obrigatória para turistas, porque as festas trazem consigo várias oportunidades não apenas de negócios, mas também de diversão.
( Teodoro Albano )
Vejo sempre com incontida emoção as imagens, que volta e meia, são passadas pela TV. Apesar do sentimento, de pura expectativa que de mim se apossa, a fustração, faz o resto, depois. E a explicação afigura-se simples. Na anseia de ver obra feita, os olhos são de tal maneira arregalados, desbotados mesmo. E nada. Nada porque a terra que me viu nascer, ainda continua com o mesmo ar rural de sempre. Apesar de ter sido erguida muito antes do Lubango , por exemplo, muito mais cedo zonas há que se mostram mais densevolvidas, a velha Caconda dos famosos Távoras, continua uma sombra de si mesma. E as desoladas imagens de areas que lembram ao diabo da guerra, são as mais mostradas. Injusto seria dizer que nada se faz. Mas convém também garantir - porque conhecemos com que linhas se cosem as nossas ideias de governação - que muito se poderia fazer. Zonas como o Cruzeiro, Mario Moutinho, Clube e outras que fizeram as delicias na nossa infância, continuam no caos que a guerra lançou, mas tambem nos dias de hoje, na incoerência de quem manda. Se não fosse o banco privado que ai se instalou, o estratégico municipio que se acha a meio caminho entre o Lubango e o Huambo, estaria ainda hoje no mapa do quase esquecimento que se apossou das remotas zonas no interior de um dos mais ricos países de Africa.

SUBIDA AO MONTE

Como dizia em tempos um velho amigo, que conhecia o Lubango só de TV e revistas, “ a nossa senhora do monte é um ex libris que se resume no natural. Sem grandes artifícios da vida moderna”. Claro que o meu velho amigo tinha razão. A conversa já tem anos. A Senhora do Monte evoluiu, cresceu e modernizou-se. Serve isto para dizer que , chegamos ( quatro dias contam-se) ao mês que os huilanos mais gostam, desculpem o exagero, devido a festa de nossa senhora do monte. Da pouca informacao que chega a Luanda, fica a referência de que a “comissão de festas” lança-se desenfreadamente na luta por festas que se querem felizes, tal como nos bons velhos tempos. Programas elaborados, com algum dinheiro e quejandos. O próprio para momentos de lazer e negócios. Feira, musica e o programa religioso estão na molde cima. Mas o que mais me chama a atenção é a EXPO HUILA devido a realizacão em Luanda da FILDA na ultima semana. O evento tem lugar no final do mês. O pessoal do marketing já o apoda de a maior bolsa de negócios do sul de Angola. Nada mais justo. Falei demoradamente com uma dessas “ especialistas em propaganda”, na FILDA, que me explicou as nuances da feira. Mas para falar a verdade deve-se aqui procurar piscar o olhos os grandes magnatas estacionados em Luanda. São eles que têm o dinheiro. São eles que podem investir. Se se esperar apenas pelos empresarios da zona, a “subida ao monte” pode ter alegria desta vez, mas vai falta o dinheiro que leva investimentos. O vil metal necessário ao desenvolvimento que tanto esperamos para as terras da Chela.

PREDADORES

“ O problema de Kaposso e que havia tubaroes mais gordos ou mais fortes”. Esta é uma das passagens do ultimo romance do celebre Pepetela que me fez refletir. Das muitas modas que vemos, a mais incomoda é a clara delapidação (material e moral) que os angolanos sofrem. O roubo é descarado, aberto. As “ comichões” inexplicadas, a gatunagem aberta e a vontade de enriquecer sem justificação é e hoje um passo snob de afirmação social na minha Angola. A referência, de Pepe aos “ Kapossos” dos nossos dias não devia ser melhor abordada na historia romanceada que um dos nossos “camões” faz na sua obra. São cerca de 390 paginas da recambolesca historia de um novo rico. O homem não olha a meios para cumprir com o seu objectivo, ou seja, engordar as custas de um povo minguante. A historia do homem que até muda de nome para parecer mais partidário; muda ainda de local de nasciemnto para ser proximo da terra do primeiro chefe. Mas Kaposso faz mais. Rouba, corrompe, mata, burla, afasta do seu caminho aqueles que pensa serem um incómodo. Come tudo e nada deixa para os demias. O glutão do Kaposso esquece-se, porém, de estudar, de aprender. Só sabe mandar. Pepetela é pois sublime nesta narracão. O predador moderno que sabe que pode virar presa. O predador que conhece outros, mas contudo mais gordos e mais fortes. Grave. O romance que acabei de ler, pela segunda vez, faz- me olhar para sociedade contemporânea angolana. Uma obra recomendavel. Um humano com sentido animalesco vira um voraz predador. Cuidado com os “ nossos” ...

A ULTIMA TABÚA DE SALVAÇÃO?

Primeiro dialogo, secreto. Depois dialogo semi aberto, só com gente previamente seleccionada. Nada de observacao internacional, da igreja, do povo. Afinal é cantilena quase oficial “ os angolanos já provaram serem maduros”. Mais um passo e novas conversas, mas desta vez com o toque de que cavalheiros se entedem melhor. Sorrisos distribuidos a rodos, palmadinhas nas costas e compromisso selado. Agora sim, a pompa e a circusntancia que o momento exigia. Poucos voos domesticos, pois todo mundo devia seguir as terras deserticas. Toda a gente: Igreja, politicos- os da situação e os opositores - os críticos do regime e os de ocasião. Todos. Corpo diplomatico chamado a preceito. Todos arregimentados para ir ao Namibe, mas sem pensar na welvitchia. A abertura que os “ cavalheiros” não garantiram, agora é real. Bonito. Havia a necessidade de se lançar um ar de credibilidade que um acordo deste tamanho deve ter, para dar ao país e ao mundo a garantia de que daqui para frente as coisas já não serão como dantes. A tabúa de salvação para o fim dos tiros está lançada, mas é a historia que vai provar que os “cavalheiros” afinal têm muita razão. A história vai dizer se realmente os que perderam o comboio do diálogo são apenas aqueles que ficaram na estacão ferroviária a espera que tudo acontecesse. Ai sim saberemos que a razão nunca pode estar penturada na ponta de um fuzil....

quinta-feira, agosto 03, 2006

DICA

Se sentíssemos o que dizemos, falaríamos menos e sentíamos mais." Um pedinte de Nova York

JORNALISMO PROFISSAO OU ARTE

BREVES NOTAS Uma profissão define-se profissão como um exercício habitual de uma actividade económica com o fim ultimo de a ter como meio de vida, portanto remunerada. É também definida como um oficio, uma ocupação. Já uma arte é descrita, pelo dicionário da língua portuguesa, como a aplicação do saber á obtenção de resultados práticos, sobretudo quando aliado ao engenho, ou habilidade. 1 Tendo em conta as duas definições, uma actividade como o jornalismo nos seus vastos limites pode ser aliada a profissão à arte. Se a arte e a profissão caminharem de mãos dadas, o sucesso é indiscutivelmente alcançado pelo executor das tarefas inerentes ao jornalismo, seja ele formado na área, portanto profissional, ou um amante do jornalismo, autodidacta a quem poderemos chamar de “ artista do jornalismo”. Nesta ultima categoria podemos colocar aqueles profissionais que mesmo sem terem passado por uma escola de formação em jornalismo, tiveram as suas possibilidades de se irem superando, claros mestres em “esculpir” a palavra, descrevendo jornalisticamente dados acontecimentos na sua zona de actuação social. A primeira opção tem bons resultados e por tem sido aplicada nas sociedades desenvolvidas onde os seus membros têm um alto nível de formação académica. Onde a comunidade intelectual é a maioria. E a segunda opção é aplicada nas sociedades pouco alfabetizadas, onde os valores morais encontram-se desmoronados em vias disso, ( dada as funções de alerta e éticas que têm os meios de comunicação social – neste caso a rádio) cfr Mauro Wolf; Teoria da Comunicação, 2000. 2 O jornalismo como qualquer actividade do ramo das artes liberais exige aprumo, profissionalismo e mestria para o bem da sociedade. Com uma classe mal formada, tosca ou carente de preceitos ético - deontológicos, fica a perder profundamente a sociedade. Já com uma classe profissional, formada, conhecedora das suas obrigações a sociedade fica a ganhar. Os ganhos sociais podem ser aferidos por uma populações conhecedora de factos, argumentados ou não, mas contudo bem delineados. Desta forma a sociedade analisa os fenómenos sociais de uma melhor maneira. Ernest Hemingway, celebre escritor americano, que ganhou um prémio nobel comentava a influencia do manual de redacção nas seguintes palavras: “ essas regras foram as melhores que aprendi sobre a arte de escrever. Jamais s esqueci. Nenhum homem de talento, que sente e escreve honestamente sobre o facto que está querendo descrever, pode deixar de escrever bem, se as observar”. 3 No entanto, o estilo é nos jornais uma palavra de dupla significação. Refere-se as regras gramaticais e, também, pode aludir á maneira individual de escrever. 3 A favor daqueles que criticam o “ livro de estilo” funciona um argumento: as exigências das normas de redacção controlam a coragem dos redactores, interessados em desenvolver um estilo jornalístico mais agradável. Diz-se, muitas vezes, aos candidatos a jornalistas que o importante não é saber escrever, em definitivo. Um mestre de jornalismo costuma mesmo afirmar que há jornalistas que não escrevem e há pessoas que escrevem e que não são jornalistas. Por outro lado, a reflexão sobre os procedimentos de trabalho, a arte de separar o trigo do joio, o noticiavel e não noticiavel, é tanto mais importante quanto esta é também uma profissão de grande exposição pública e pressão constante. O jornalista pode passar 20 anos a construir uma reputação e perdê-la em 20 segundos ao noticiar uma mentira ou cometer um erro grave. Cuidado, rigor, e o cumprimento estrito dos procedimentos deontológicos são a única forma de prevenir tais riscos. Um jornalista também deve ter sempre presente, e não deixar que isso abale a sua capacidade de decidir como e em que circunstâncias informar, que quando se noticiam situações em que há interesses em conflito agradar a gregos e troianos é impossível - e mesmo, agradar, as mais das vezes, não é sequer desejável. Se tal suceder, constitui pelo menos razão para rever os procedimentos e opções tomadas, ainda que para concluir que foram adequados. POR MANUEL VIEIRA